O supercamundongo foi criado por cientistas norte-americanos da Universidade Case Western Reserve. Uma linhagem de camundongos foi modificada geneticamente pelos cientistas, que buscavam estudar a produção de enzimas por um determinado gene, o resultado da experiência originou camundongos com características físicas amplificadas, maior resistência, idade reprodutiva mais longa, maior necessidade de alimentação e excesso de agressividade.
Estudos posteriores demonstraram que os camundongos da experiência são sete vezes mais ativos que os camundongos normais.
O ganho de força dos camundongos geneticamente modificados, segundo um dos responsáveis pelo estudo, se deve a ação da enzima PEPCK - C sob o músculo esqueletal. A enzima atua no metabolismo do animal e gerou os "poderes" nos camundongos, de acordo com Richard Hanson, professor de Bioquímica da Universidade.
O gene pesquisado é comum aos seres humanos e aos roedores, contudo, os cientistas não acreditam que o experimento poderá ser aplicado à espécie humana, com a finalidade de aumentar a produtividade metabólica e física das pessoas.
A única intenção da pesquisa foi tentar entender o papel metabólico da enzima PEPCK - C sob o músculo esqueletal, afirmou Hanson.
Link da notícia completa
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/11/071102_supercamundongo_ba.shtml
Após uma síntese da notícia, seguiremos para uma breve reflexão:
O avanço das ciências biomédicas, sobretudo, da genética é visível e é um processo irreversível, que pode, talvez, ser freado ou acelerado, conforme interesses de grupos econômicos e políticos mundiais.
A produção de supercamundongos nos alerta para um eminente risco, qual seja, a alteração da natureza de uma espécie, transformando-a, apesar do conhecimento prévio dos inúmeros perigos decorrentes da manipulação genética. Iremos exemplificar: Quem não se lembra da ovelha Dolly, clonada em 1996, a partir das células de outra ovelha? Pois bem, Dolly foi sacrificada em 2003, pois sofria com uma doença que não era habitual para uma ovelha da sua idade e os cientistas suspeitaram que a ovelha envelhecia precocemente. Diversos questionamentos sobre a clonagem vieram à tona e o caso "Dolly" comprovou mais uma vez as limitações da Ciência.
Os supercamundongos, recém criados, demonstram novamente, o perigo de se trabalhar com algo tão complexo, enigmático como o código da vida. Os camundongos foram gerados com mutação genética, ganharam força, resistência, longevidade reprodutiva, mas, ganharam também agressividade. Imaginem supercamundongos soltos por aí, se multiplicando, tornando-se resistentes aos pesticidas, invadindo os lares etc.
Gostaria de convidar os leitores a refletirem, no campo especulativo e hipotético, sobre os possíveis benefícios que a manipulação genética poderia trazer para espécie humana, a exemplo do que ocorreu com os camundongos:
- Teríamos homens e mulheres mais saudáveis, com imunidade às doenças;
- A vida reprodutiva dos humanos aumentaria significativamente;
- As futuras gerações nasceriam mais saudáveis, pois herdariam das gerações anteriores genes e caracteres perfeitos;
- Os gastos com medicamentos seriam drasticamente reduzidos, já que os organismos humanos tornariam-se menos suscetíveis às bactérias e vírus;
- A produção de riquezas aumentaria, afinal, super-humanos poderiam trabalhar mais, sem ficar cansados.
- A exemplo de Dolly, poderíamos sofrer o efeito colateral da manipulação genética ou da transferência de células de um organismo para outro, e evelhecermos precocemente;
- Com o envelhecimento precoce o sistema imunológico das pessoas ficaria debilitado frente às doenças, o que aumentaria o consumo de medicamentos e drogas;
- As alterações genéticas poderiam provocar alterações comportamentais e psicológicas, tornando os humanos agressivos, conforme ocorreu com os camundongos;
- A experiência poderia ser utilizada por nações e grupos terroristas mal intencionados, para criar exércitos de mutantes poderosos, com mais força, resistência e violência para combater;
- As indústrias poderiam aproveitar a ciência para criar trabalhadores mais eficientes, mais fortes, incansáveis para produzirem riquezas para um determinado grupo social.
As possibilidades de erro existem e são consideráveis, principalmente, quando se trata da vida humana. Os perigos decorrentes das mutações genéticas, podemos citar também a produção de alimentos geneticamente modificados, são inúmeros, elencamos apenas cinco, dentro de uma infinidade de problemas que poderiam ser provocados após a experiência. Portanto, devemos ter cautela com esse tema, que envolve questões éticas, filosóficas, religiosas e sociais que podem ser conflitantes e merecem ser exaustivamente discutidas.
Cabe lembrar que na passagem do século XIX para o século XX, cientistas europeus, como Charles Darwin(1809-1882) e Francis Galton (1822-1911) dentre outros, com o advento da Biologia, discutiam a origem e a evolução das espécies. Galton, primo de Darwin, utilizou algumas proposições teóricas de seu primo para criar uma ciência, cujo objetivo era aperfeiçoar a raça humana, seu nome era Eugenia. Galton, cientista britânico, estava incomodado com a situação das cidades industriais inglesas, os operários eram imundos e, de modo geral, debilitados fisicamente. Os bairros operários exalavam mau cheiro, enfim eram ambientes inóspitos. A preocupação do "pai" da eugenia, era com a reprodução das classes mais pobres, a qual superava em número, a reprodução das classes mais abastadas, isto é, a nobreza e a burguesia comercial e industrial. Galton, utilizando a estatística e a biologia, acreditava que a raça humana estava em decadência, pois os mais pobres e mais doentes eram os que mais se multiplicavam, enquanto os mais ricos e saudáveis, não acompanhavam o quantitativo reprodutivo das classes sociais "inferiores". Assim sendo, a raça humana estaria fadada à extinção, pois o número de miseráveis e doentes crescia mais que o número de pessoas ricas, talentosas e saudáveis. O instrumental fornecido pela "ciência" eugenia poderia salvar a raça, controlando os matrimônios, esterilizando os "elementos" considerados degenerados (negros, mestiços, portadores de deficiências físicas e mentais) e que não poderiam ter filhos, pois acreditava-se que a degeneração do gerador seria transmitida para o gerado. A influência do meio era desconsiderada, e menos importante que a transmissão hereditária. Diversos foram os métodos empregados pelos eugenistas, considerados também "sanitaristas" da raça, para tentar evitar a degradação da espécie humana.
Deve-se ressaltar que os ideais eugênicos serviram perfeitamente aos regimes totalitários de meados do século XX, como o Nazismo na Alemanha de Hitler. Sob o pretexto de preservar a "pureza" da raça ariana, considerada a raça perfeita, Hitler perseguiu judeus, eslavos, homossexuais, ciganos e deficientes físicos e mentais, praticando a chamada eugenia negativa, esterilizando os grupos indesejados, isolando-os e eliminado-os para evitar que se misturassem ao povo alemão. Os nazistas também praticaram a eugenia positiva, isto é, o estímulo a procriação entre os alemães caracterizados como legítimos representantes da raça ariana, os quais deveriam gerar filhos puros e perfeitos, para servirem à pátria Alemã, nos campos, nas indústrias ou na guerra.Assim, a ciência ajudou a legitimar o regime nazista e, conseqüentemente, justificou o massacre de milhões de pessoas. É preciso cautela para não permitirmos que a ciência sirva novamente à interesses políticos e econômicos obscuros de grupos sociais dominantes. A História nos mostra como foram traumáticos os últimos eventos, nos quais a ciência teve significativa participação e uso inadequado. Atualmente, cientistas acreditam que o controle do código genético possibilitará a correção das imperfeições no patrimônio genético, prevenindo doenças degenerativas nas futuras gerações. Mas, tal poder também poderá ser utilizado de outras tantas maneiras, que podem ser nocivas à toda espécie. Por isso, diversos governos no mundo criaram leis para restringir a clonagem, o desenvolvimento de alimentos transgênicos etc.
Para concluir, deve-se lembrar que o Humano não é Deus para tirar vidas ou construí-las como bem quiser. A obrigação humana na Terra é respeitar os seus iguais e os diferentes, vivendo em harmonia, mesmo que isso não passe de uma utopia, devemos cultivá-la e almejá-la, pois somente assim conseguiremos viver em um mundo mais justo e fraterno, onde as tendências homogeneizantes (cultural ou biológica) ficarão restritas ao passado, cedendo espaço para a tolerância e para a diversidade.
Rodolfo Alves Pereira
Diretor e Professor de História - Escola Estadual "Justiniano Fonseca"
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