No Brasil as monoculturas de árvores, especialmente de eucaliptos, para produção de celulose estão se expandindo em um ritmo muito acelerado. E geram muitos conflitos das empresas e governos com movimentos sociais e ambientais. Por que a América Latina, e especialmente o Brasil, é a bola da vez no mercado de produção de celulose? Que impactos isso gera para a sociedade brasileira?
Os nomes que as monoculturas de árvores para produção de celulose recebem pelo mundo afora revelam que, na percepção das populações afetadas, esses plantios geram mais impactos negativos do que positivos.
Na Tailândia, as famílias agricultoras chamam o eucalipto de árvore egoísta, porque as plantações absorvem os nutrientes do solo e consomem tanta água que nos campos vizinhos não é possível plantar arroz.
No Chile, o povo indígena Mapuche refere-se às plantações de pinheiros como milicos plantados, porque são verdes, formam fileiras e avançam.
Na África do Sul, as plantações de eucalipto são chamadas de deserto verde, porque ressecam os solos, expulsam animais e outras espécies vegetais e provocam o êxodo das populações.
Por que o Brasil?
Entre os motivos que atraem as empresas de celulose para o Brasil está a disponibilidade de terras, água e clima quente e úmido, que propiciam o rápido crescimento das árvores. Em torno de sete anos cresce o eucalipto, enquanto que em Portugal e Espanha esse tempo de crescimento não é menor que 15 anos. E em áreas mais geladas da Europa, como Finlândia, as árvores usadas para celulose levam até 80 anos para atingir o ponto de corte.
Além disso, no Brasil, graças aos grandes investimentos em publicidade e aos volumosos patrocínios de campanhas eleitorais, a grande mídia e a maioria dos políticos são parceiros das empresas de celulose. De modo que os governos oferecem incentivos fiscais para elas se instalarem, flexibilizam exigências ambientais e procuram construir no imaginário social a compreensão de que as plantações e as fábricas de celulose vão gerar empregos e desenvolvimento socioeconômico.
Questão ambiental
Para Dirce Suertegaray e Roberto Verdum, professores da Faculdade de Geografia da UFRGS e autores do Atlas da Arenização no Sudoeste do Rio Grande do Sul (2001), a expansão do monocultivo do eucalipto é preocupante porque, além da desertificação do clima resultante do elevado consumo de água dos eucaliptos, pode ter outras graves conseqüências como:
· Ressecamento do solo e aumento de erosão: A geógrafa Dirce se indigna com as propagandas das empresas que realizam os plantios para celulose no Brasil porque elas mostram imagens de bosques em que os eucaliptos aparecem no meio de muitas outras árvores em que muitos bichos convivem harmoniosamente naquele ambiente, como ocorre na Austrália, que é o lugar de origem dessa espécie vegetal.
· Diminuição da Biodiversidade: Todos os pesquisadores afirmam que é comprovado que em qualquer lugar do mundo o cultivo das florestas homogêneas de eucalipto provoca empobrecimento da biodiversidade. Isso evidentemente causa impactos na fauna porque, à medida que muda a vegetação, toda a dinâmica da vida dos animais no local altera-se.
· Transformação da paisagem e da identidade cultural: Para a professora Dirce, existe uma tendência de ecologistas acharem que preservar o ambiente é proteger as matas e plantar árvores, quando na verdade todos os ecossistemas precisam ser preservados.
Segundo o ecologista Francisco Milanez, “as pessoas são diferentes porque vivem em ambientes diferentes, que exigem modos de vida específicos. Se padronizamos a paisagem, vamos padronizando também a cultura das pessoas”. Outro impacto enfatizado por Milanez é a poluição decorrente do processo de fabricação da celulose branqueada, em que são utilizados produtos como a dioxina, que colocam em risco a população e o meio ambiente. “Na Alemanha, por exemplo, a tolerância à dioxina é zero. Aqui é utilizada sem nenhum controle”, critica o ambientalista.
A essa altura o (a) leitor (a) deve estar se perguntando: e as legislações ambientais não são um instrumento eficiente para impedir esses impactos nocivos para o meio ambiente impondo limites a essa expansão? Infelizmente, a flexibilização de legislações ambientais para atender interesses econômicos tem sido uma prática cada vez mais freqüente no Brasil.
Christiane Campos*
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